Egocentrismo

Em cada fase da vida, agimos de um modo específico que é o normalmente esperado e se dá pela dinâmica natural da vida.

Na primeira infância, estamos desprotegidos e precisamos de ajuda para literalmente não morrer. O medo inconsciente é de sermos abandonados. Quando crianças, queremos carinho, aceitação e acolhimento, nossa dor é a falta de aprovação. Na adolescência, precisamos de orientação e queremos o pertencimento, nossa dor é o medo de não encontrarmos nosso lugar no mundo.

Mas, algo que é comum para todas essas fases é o fato de estarmos sempre “recebendo” e tendo nossas necessidades e vontades atendidas. Não precisamos nos preocupar em dar, mas em receber.

Contudo, quando nos tornamos adultos, os papéis se invertem e nós é que precisamos nos tornar os provedores do que esperam de nós como marido, pai e profissional. Mas, para que tenhamos condições de agir naturalmente dessa forma, é necessário que de fato entremos na vida adulta. Se continuarmos presos na condição de crianças ou adolescentes, podemos até nos esforçar em sermos adultos, porém mais ou menos vezes teremos atitudes típicas dessas fases.

Para conseguirmos viver de modo pleno, precisamos não apenas saber racionalmente o que é ser um homem maduro, o que é ser marido e o que é ser pai. É necessário abandonar aquelas fases.

Como manual perfeito para nossa vida, a bíblia dá um imperativo: Por essa razão, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e eles se tornarão uma só carne. (Gênesis 2:24)

Observe bem: para poder se unir à sua mulher e se tornar um com ela, é requisito que antes deixe pai e mãe.

Muitas pessoas acreditam que o “deixar pai e mãe” é apenas no aspecto físico e financeiro. Porém, você pode estar morando a quilômetros de distância de seus pais e sem depender financeiramente deles e ainda assim não ter se desligado. Da mesma forma, você pode morar no mesmo terreno que eles e ainda assim tê-los deixado. Isso porque, a ordem de “deixar pai e mãe” é muito mais voltada para nosso ser interior, do que para as condições externas.

As Escrituras ensinam que enquanto não liberamos genuíno perdão, permanecemos ligados às situações e às pessoas, aprisionados em amargura, mágoa e impossibilitados de passar pelo processo de cura.

Trazendo isso para a dinâmica familiar, a falta de uma genuína liberação de perdão aos pais pelo que fizeram ou deixaram de fazer, deixa a pessoa aprisionada e a impede de ser adulta e de saudavelmente exercer os papéis que precisará desempenhar nessa fase da vida.

É necessário deixar com eles aquilo que é deles. As dores deles, são deles. Os erros deles, foram cometidos por eles. Eles agiram da melhor forma como poderiam ter agido dentro de suas ignorâncias, falhas, traumas e, também, de suas virtudes.

Conheci alguém que vivenciou isso.

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Após uma infância de traumas e dores, logo que teve condições saiu de casa e se afastou completamente de seus pais. Ficou anos se falar com ambos, que já eram divorciados. Depois de um tempo, até se reaproximou e chegou a ajudar financeiramente sua mãe no intuito de cumprir o mandamento de “honrar pai e mãe”. Contudo, seu distanciamento era nítido.

Por tudo que vivenciou em sua infância e adolescência, tinha várias mágoas e isso impedia ter uma boa relação com eles. Ou seja, pela falta de perdão e de liberação deles, continuava preso àquela fase da vida, em que pese estar vivendo casado e com filhos.

Consequência disso? Agia psicologicamente como filho, esperando receber de tudo e de todos. Apenas em espírito, mas não emocionalmente (e nem conseguiria) verdadeiramente se ligar a sua mulher, também não se tornou protetor emocional de seus filhos. Queria tudo de seu jeito e se algo não fosse conforme a sua vontade, se irritava, fechava a cara e por ser o provedor financeiro e “chefe” da família, tornou-se autoritário. Seus filhos e esposa viviam em constante sensação de medo por não saber se algo poderia desagradá-lo.  Até despertar para essa realidade e se submeter a tratar aquilo que o aprisionava às fases iniciais de sua vida, causou muito danos.

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Caro leitor, meu anseio é que para você reflita sobre seus comportamentos, ore pedindo direção de Deus, procure um profissional para te ajudar e se submeta, com o coração sincero e quebrantado, a repassar toda sua vida e entender por que você tem determinados comportamentos.

Tome muito cuidado e preste muita atenção ao que as pessoas que verdadeiramente te amam dizem sobre você, sobre o que você precisa melhorar, mesmo que você não concorde, pois é estratégia das trevas que você permaneça cego e aprisionado. Então, não seja orgulhoso, seja humilde para se expor.

Com a ajuda certa, você passará a entender seus comportamentos, seus gatilhos e, somente então, terá condições de ter uma vida adulta saudável. Lembre-se que “perto está o Senhor dos que têm um coração quebrantado” (Salmos 34:18) e Ele quer o melhor você e sua família.

Sobre o Autor

H. S. Lima

H. S. Lima é escritor, advogado e palestrante. Tem como propósito de vida compreender os princípios eternos contidos principalmente nos cinco primeiros livros do Antigo Testamento, chamados de Pentateuco ou Torá, identificar a compatibilidade com a mensagem de Jesus Cristo, para então ensinar como observá-los na vida pessoal e profissional.

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