Orgulho destrutivo

Crendo ou não em Deus e nas Escrituras, fato é que os princípios espirituais e as promessas celestiais agem independente de nossa vontade. Ação e reação, nossas condutas definem as consequências que experimentaremos. Benção ou maldição. A escolha é nossa.

Contudo, muitas vezes queremos fazer o melhor, queremos semear boas sementes e nos esforçamos nesse sentido, mas, com maior ou menor frequência, acabamos fazendo aquilo que não queremos, então nos envergonhamos e tentamos novamente não fazer, até que tropeçamos mais uma vez. Às vezes, cansados da luta, nos afundamos naquilo que não queremos e que sentimos em nosso íntimo que não é o caminho correto.

Eis que surge a questão: por que agimos de modo que não queremos?

As respostas podem ser múltiplas, mas quero abordar sob a ótica da falta de tratamento de nossa alma.

Salvo se você teve a gigantesca benção de nascer num lar completamente funcional, repleto de amor e com muita sabedoria de seus pais e familiares, todos nós temos marcas que foram causadas em nossas almas por palavras, atitudes e experiências. Como aprendemos que devemos ser fortes e como uma forma de proteção diante desses traumas, passamos a não compartilhar os sentimentos que experimentamos diante das adversidades. Assim, nossas angústias, medos, fraquezas e inseguranças são ocultadas e passamos a apresentar apenas nosso lado forte e bonito.

Acreditando ter esquecido nossas feridas, vamos levando nossas vidas na inconstância entre sermos corretos e lutando para não errar. Porém, como não estamos sempre fortes, algumas ou até várias vezes perdemos a luta.

Só que se o nosso espírito é divino e não nascemos com uma alma corrompida, por que continuamos a ter atitudes vergonhosas?

Não basta apenas aprender racionalmente que algo é errado, pois se sentimos vergonha e culpa é porque já tivemos essa consciência.

A questão é muito mais profunda e está escondida nas áreas obscuras de nossa alma.

Para sermos aceitos e bem-vistos por aqueles que nos amam, deixamos oculto nosso lado negro, porque o medo de sermos rejeitados e o sentimento de vergonha são mais fortes do que nossa consciência da necessidade de expor nosso lado feio.

Porém, por Deus nos amar incondicionalmente, Ele vai gerando situações e situações para nos dar a oportunidade de nos tratarmos para ter uma vida plena e abundante como Ele promete em suas Escrituras.

Com cada um Ele age de uma forma diferente, mas algumas características são constantes: a suavidade, a paciência e a progressividade.

Para os corações mais tratáveis, pequenos sinais bastam. Para os corações endurecidos, as doses são mais fortes e aumentam paulatinamente.

Quanto mais orgulho tiver do personagem ou do aspecto de sua vida que procurou mostrar, mais forte terá que ser a dose do remédio para que o paciente se submeta ao tratamento.

Conheci alguém que vivenciou isso.

Seus pais não o queriam e cogitaram o aborto, mas por questões financeiras, acharam que seria mais fácil “criar o garoto”. Durante a infância, sofreu abuso sexual e cresceu com a vergonha dos familiares que sabiam disso e levianamente faziam comentários sarcásticos sobre sua sexualidade. Durante uns seis anos, até a adolescência, cresceu vivenciando várias cenas do pai espancando a mãe. Também presenciou o pai traindo a mãe, inclusive chegou ser levado a lugares onde isso acontecia. Talvez por dúvida da sexualidade do filho que era muito tranquilo quanto a namorar, o pai pedia para suas amantes e para as amigas dela se aproximarem sexualmente do filho. O pai falava que ele era preguiçoso e que “não seria ninguém na vida”.

Esse jovem ficou insensível, desconfiado, promíscuo, necessitado de provar sua masculinidade, com concepção deturpada do que é ser homem, marido e pai. Por outro lado, dedicou-se intensamente em desenvolver suas habilidades profissionais. Tornou-se alguém de destaque na profissão, admirado por algumas pessoas. Escreveu textos e livros que tocaram a vida de pessoas. Tornou-se orgulhoso desse aspecto de sua vida e fez de tudo para preservar essa imagem de vencedor e de perfeição. Então, viveu anos numa batalha interna e tentando esconder seu lado sombrio, deturpado e doentio.

Quando esteve espiritualmente fortalecido, vencia a luta interna. Quando se encontrava fraco, cedia, sentia remorso, e a si mesmo e aos outros, quando era exposto, prometia que iria melhorar. Mas era questão de tempo e as feridas de sua alma voltavam a expelir pus.

Deus permitiu que uma série de situações acontecessem em sua vida. Colocou até diante de riscos reais e eminentes de perder sua liberdade e sua vida. Mas nada foi suficientemente forte para quebrar seu orgulho, expor sua feiura e se submeter ao tratamento. Então, Ele tocou naquilo que mais amava. Sua esposa pediu o divórcio. Ele perdeu o convívio com ela e com seus filhos.

A dor sofrida foi tão grande que, pelo imenso amor e misericórdia de Deus, foi levado em seu espírito a diversas situações que vivenciou em seus primeiros anos de vida e a entender as consequências que tiveram em sua vida e em seu comportamento fracassado na esfera pessoal e familiar.

Então, sua oração não foi mais de apenas pedir perdão e por uma nova oportunidade para fazer as coisas diferentes, mas passou a perguntar a Deus o motivo de agir como agia, pois estava cansado de lutar e perder. Passou a entender que não precisava ter sofrido por tanto tempo e machucado tantas pessoas. Que bastava ter deixado o orgulho de lado, exposto suas feridas e fraquezas, e se submetido ao tratamento.

Deus tem promessas de bençãos e de uma vida plena para todo nós, mas nossas atitudes em desarmonia com a vontade divina nos impedem de acessar esse lugar. E quando o orgulho é grande o suficiente para nos impedir de expor as feridas de nossa alma, permanecemos doentes e fracos.

Minha oração é para que você, leitor, não tenha medo de expor suas fraquezas, suas tentações, suas feridas, pois é nesse lado oculto de sua vida que o reino das trevas te aprisiona numa vida infeliz, esperando o momento certo para te matar, te roubar ou te destruir.

Deus é misericordioso e paciente. Ele age de forma sutil e vai aumentando a dose até que faça o efeito esperado. Porém, quanto mais você demora para aceitar o tratamento, mais graves terão sido as consequências de sua doença. Vença o medo, saiba que apesar da imensa dor inicial, no decorrer do tratamento a dor vai passando e você vai se sentindo aliviado. Triste pelo tempo que perdeu, mas esperançoso pelo que poderá viver.

Sobre o Autor

H. S. Lima

H. S. Lima é escritor, advogado e palestrante. Tem como propósito de vida compreender os princípios eternos contidos principalmente nos cinco primeiros livros do Antigo Testamento, chamados de Pentateuco ou Torá, identificar a compatibilidade com a mensagem de Jesus Cristo, para então ensinar como observá-los na vida pessoal e profissional.

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