Qual o princípio celestial que fundamenta a ajuda aos necessitados (tsedacá)?

(…)

Os céus agem com os seres humanos segundo o princípio da “medida por medida”, chamado no judaísmo de “midá kenégued midá”, tratando-os na mesma proporção que se comportam com os semelhantes. Jesus não apenas abordou essa realidade, mas alertou e insistiu sobre ela, pois espera que as atitudes com o próximo sejam abundantes em amor. Agindo dessa maneira, abre-se o canal para receber dos céus o mesmo tratamento e em igual medida. O critério é a reciprocidade.

Deixar de ajudar alguém porque sua história de vida revela que foi negligente, preguiçosa, displicente ou porque talvez tenha desperdiçado oportunidades ou mesmo tenha sido mal caráter pode até fazer sentido segundo a ótica humana; contudo, não é essa a vontade de Deus, pois Ele quer que no relacionamento entre suas criaturas haja larga medida de bondade, generosidade e misericórdia, as verdadeiras expressões de amor. É assim que as pessoas almejam ser tratadas pelo Pai celestial, e é assim que Ele quer tratar Seus filhos.

Qualquer um que analisar a própria condição espiritual e tentar compará-la com a santidade de Deus, será forçado a reconhecer que está proporcionalmente muito mais afastado Dele do que de qualquer ser humano que possa ter pecado gravemente. Mas, apesar das dificuldades de o ser humano alcançar a santidade, isto é, a perfeição longe do pecado, e permanecer nela, as misericórdias do Senhor se renovam a cada manhã. Assim, porque ama e quer abençoar, o Pai tem uma atitude que representa um equilíbrio perfeito entre justiça e bondade: delega ao próprio ser humano a tarefa de forjar a medida que Ele usará para retribuir suas atitudes, ou seja, propõe o livre-arbítrio na  maneira como o homem agirá com o próximo. Desse modo, ser generoso e abundante em ajudar quem precisa, independentemente de qualquer merecimento, possibilita receber do céu igual tratamento.

A respeito disso, a sabedoria judaica ensina que “[…] no céu, o comportamento com as pessoas é medida por medida. Se alguém for escrupuloso e exigente, somente dando tsedacá a indivíduos que a mereçam, o Céu apenas lhe concederá as Suas bênçãos caso ele as mereça. […]”[1]

Nessa mesma perspectiva, o Rabino Chaim Tsanzer expressa esse princípio:

Rabi Chaim Tsanzer vivia para a tsedacá, e a distribuía fartamente. Uma vez, ele deu uma quantia considerável a alguém que mostrou ser um impostor. Isso magoou muito os seus chassidim, e eles perguntaram ao rebe o porquê de ele ter dado tsedacá a essa pessoa indigna. […] Rabi Chaim Tsanzer concluiu: “Enquanto eu não for excessivamente seletivo quanto aos receptores da minha tsedacá, eu poderei esperar que Hashem seja misericordioso e generoso para com alguém tão indigno quanto eu.[2]

Não foi por menos que o profeta Obadias afirmou: “Como fizeste ao teu próximo, assim se fará contigo; o teu feito retornará sobre a tua própria cabeça!’’ (Ob 1:15).

Jesus também tratou dessa reciprocidade.

Em Mateus 6:12, Jesus ensina a orar ao Pai, dizendo: “[…] perdoa-nos as nossas ofensas, assim como nós temos perdoado aos nossos ofensores”. Essas palavras demonstram claramente que o perdão será recebido na “mesma medida” em que for liberado. Equivale a dizer, por exemplo, que se alguém perdoa, mas não quer mais relacionar-se com quem a ofendeu, está pedindo a Deus que a perdoe por seus pecados, mas que também não faz questão de relacionar-se com Ele.

Um pouco mais adiante, Ele reforça, explicando: “Pois com o critério com que julgardes, sereis julgados, e com a medida que usardes para medir a outros, igualmente medirão a vós” (Mt 7:2). É nítida a correlação. Quem recusa ajudar um necessitado por achar que ele não é digno, recebe de Deus assistência segundo o mesmo critério. Portanto, se quiser receber DEle bondade e generosidade, é dessa forma que deve agir com quem precisa de ajuda.

A doutrina judaica compartilha a seguinte história  sobre esse princípio:

Rabi Zusha respondeu: “Veja você, meu filho, o Todo-Poderoso conduz-se conosco conforme nós nos conduzimos com os outros. Enquanto você esteve disposto a ajudar na manutenção de alguém tão indigno quanto Zusha, Hashem também se comportou generosamente contigo, fosse você merecedor, ou não, de tais bênçãos. Mas uma vez que você se tornou seletivo e exigente, passando a ajudar somente o maior dos tsadikim, o Todo-Poderoso reagiu à altura, tornando-se mais seletivo, escolhendo apenas os recipientes mais dignos de sua generosidade” […] [3]

Não é apenas no judaísmo que essa realidade é ensinada. Jonathan Edwards, famoso teólogo e filósofo do século XVIII, lembra que:

CONTINUA…


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Sobre o Autor

H. S. Lima

H. S. Lima é escritor, advogado e palestrante. Tem como propósito de vida compreender os princípios eternos contidos principalmente nos cinco primeiros livros do Antigo Testamento, chamados de Pentateuco ou Torá, identificar a compatibilidade com a mensagem de Jesus Cristo, para então ensinar como observá-los na vida pessoal e profissional.

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