“Pensar é o trabalho mais pesado que há,
e talvez seja essa a razão para tão poucos se dedicarem a isso.”
(Henry Ford)
Durante o período em que estive na Espanha fazendo mestrado em direito, entre tantas experiências, uma me chamou a atenção, de modo que pretendo utilizá-la como introdução para algo que hoje considero importante.
Havia momentos em que participávamos de seminários em um auditório no qual também assistiam às explanações os alunos de outras turmas, inclusive as do doutorado daquela instituição. Além das valiosas lições dos professores, percebi uma interessante peculiaridade na postura dos alunos europeus no que diz respeito ao ato de questionar.
Esses alunos, quando formulavam suas perguntas, no começo me geravam certo incômodo, porque primeiramente faziam uma explanação, às vezes longa, sobre algumas ideias para só então introduzir a pergunta. Além disso, outro ponto que me causava desconforto era que, ao fazerem os questionamentos, por vezes contrariavam o professor e, apesar de não alterarem o tom da voz, eu tinha a (falsa) sensação de que estavam sendo ofensivos. Questionando os posicionamentos do professor, mas de modo muito inteligente, às vezes conseguiam revelar inconsistências na abordagem deste. E eu, em minha perspectiva, considerava aquilo no mínimo deselegante.
Para minha surpresa, contudo, não percebia nenhum incômodo do professor, cuja atitude era, a partir das colocações do aluno, se fosse o caso, melhorar o discurso – clareando a exposição ou aprofundando o tema –, ou corrigir eventuais incoerências.
Com o tempo, percebi que esse era o padrão que se esperava dos alunos, ou seja, não uma atitude passiva, mas contributiva e criticamente construtiva. Passei, então, a observar mais atentamente esse “fenômeno”. Quando tínhamos aulas apenas da nossa turma e acontecia de não fazermos questionamentos ao professor, notava certa decepção em seu rosto. Isso ficou muito nítido, por exemplo, com um professor italiano – o jurista Pierluigi Chiassone –, da Universidade de Gênova. Contudo, por vezes, após a insistência de alguns, formulávamos perguntas, mas não tão elaboradas como as feitas pelos colegas de outras nações.
A partir dessas experiências, decidi me empenhar em, sempre que possível, fazer alguma indagação ao professor ou palestrante. Dentre os vários benefícios, percebi de imediato que o nível de concentração acerca do tema aumenta consideravelmente, pois, para fazer uma pergunta contextualizada, é preciso atenção a tudo que é transmitido. Porém, confesso que não é agradável sair da zona de conforto, fugir da condição de passividade e correr o risco de perguntar alguma “besteira”. Entretanto, os ganhos são imensos, e as aulas e palestras passam a ter um “sabor diferente”.
O rabino chefe da Grã-Bretanha, lorde Jonathan Sacks, escreveu que o judaísmo é uma religião baseada em fazer perguntas. Afirma que “no judaísmo a ausência de perguntas não é um sinal de fé, mas de falta de profundidade”. Ele relata o interessante testemunho do judeu Isidor Isaac Rabi, ganhador do Nobel de Física em 1944, que se dedicou, entre outros, a estudos relacionados à ressonância magnética e, dessa forma, auxiliou no desenvolvimento da “cavidade de magnétron”, utilizada tanto nos radares como em fornos de micro-ondas (Wikipedia), duas invenções tão úteis e presentes em nosso dia a dia. Relata o rabino:
O físico judeu ganhador do Nobel, Isidor Rabi, explicou certa vez como sua mãe o levou a ser cientista: “Todas as outras crianças, ao chegarem da escola, ouviam a seguinte pergunta: ‘O que você aprendeu hoje?’. Minha mãe, porém, costumava perguntar: ‘Isinho, você fez uma boa pergunta hoje?’”. Na ieshivá (escola judaica), local onde se estuda o Talmude, o melhor elogio que um professor pode dar a um aluno é dizer “Du fregst a gutte kasha” – “você levantou uma boa questão”.
Mais adiante, assevera:
… apesar de a Torá estar repleta de mandamentos – 613 no total –, não existe nenhuma palavra bíblica que significa “obedecer”. Em vez disso, a Torá utiliza a palavra shemá, que significa “ouvir e escutar, refletir, internalizar e responder”. Deus não quer obediência cega, mas uma resposta que seja fruto da compreensão.
Assim, compreendemos que nosso Criador não quer uma fé “cega e ignorante” e que obedeçamos como se fôssemos seres autômatos. Ao contrário, Ele quer que a obediência seja o resultado prático proveniente de atenta reflexão e profundo entendimento acerca de Seus mandamentos para a vida.
CONTINUA…
Querido leitor,
Você está gostando deste texto?
Leia ele completo no livro que publiquei, chamado Princípios para a Vida.
Se você comprar, estará me ajudando e ainda me incentivando a escrever cada vez mais.
Abaixo, coloco os links para facilitar.
Muito obrigado e que Deus te abençoe poderosamente.