“… após a morte, não há mais nada que você possa fazer.
Suas oportunidades de fazer boas ações estão todas vencidas.”
(Rabino Benjamin Blech)
Existe um conto rabínico que revela uma interessante verdade acerca do Reino de Deus e que Jesus ratificou:
Um homem muito rico, que fora miserável ao longo de toda a sua vida e nunca fizera nenhuma caridade, morre e chega ao Mundo Vindouro. Enquanto aguarda na fila, ele ouve as pessoas à sua frente sendo questionadas: “Quanto você doou para a caridade?”. Quando chega sua vez e também lhe fazem a mesma pergunta, ele responde: “Bem, para ser honesto com você, eu não fiz muita caridade, mas meu talão de cheques está bem aqui comigo. Estou disposto a assinar um cheque de qualquer valor, o quanto você quiser. Sou um homem rico com um patrimônio enorme – nenhuma quantia será problema”.
A resposta vem em seguida: “Eu lamento muito, mas aqui no Céu não aceitamos cheques, apenas recibos”. (Benjamin Blech, Se Deus é bom, por que o mundo é tão ruim?, p. 72)
Esse conto não fala sobre a “salvação”, mas aborda a questão do galardão, ou seja, da recompensa que cada um receberá de acordo com os atos praticados aqui neste mundo.
Para os cristãos, a “salvação”, ou melhor, o “direito de viver no Céu”, já foi conquistado por meio do sacrifício de Cristo, bastando crer n’Ele. Não há nada que se possa fazer para “merecer” viver a eternidade próximo do Criador, pois, na mesma medida em que Ele é valioso demais, somos muito imperfeitos.
No entanto, a própria Bíblia está repleta de passagens que demonstram que, além da “salvação”, existe a chamada “recompensa” ou “galardão”. Vejam alguns desses trechos bíblicos:
E eis que cedo venho e o meu galardão está comigo, para dar a cada um segundo a sua obra. (Ap 22:12)
Porque o Filho do Homem virá na glória de seu Pai, com os seus anjos; e então dará a cada um segundo as suas obras. (Mt 16:27)
Esse conto rabínico chama a atenção para a importância de praticar a ajuda aos necessitados, que na cultura judaica é chamada de tsedacá.
Os rabinos ensinam que ter riquezas terrenas não é ruim, pelo contrário, é melhor ser próspero do que ser pobre, pois os bens materiais, se bem utilizados, possibilitam ao homem realizar muitas boas obras que, ao final, serão computadas a favor, sopesando-as junto com a intenção do coração (que só Ele conhece).
Existe um ditado popular que diz que “caixão não tem gaveta”, numa referência ao fato de que “dessa vida nada se leva”. Isso é uma meia verdade, pois de material realmente nada se leva. Contudo, é possível “enviar” enquanto ainda se está aqui.
Em Mateus 6:20, Jesus orienta: “… acumulem para vocês tesouros nos céus…”. Então, surge a pergunta: como juntar tesouros nos céus?
É o próprio Senhor Jesus quem responde: “Vendei vossos bens e dai esmolas; fazei para vós outras bolsas que não desgastem, tesouro inextinguível nos céus…” (Lc 12:33).
Disso advém outra indagação: “mas é para vender tudo o que se tem?”. Não, não foi isso que Jesus pregou. Aliás, até falou, mas foi apenas para o Jovem Rico que praticava a idolatria, por colocar esperança no deus Mamón [dinheiro] (Mt 19:16-30). Porém, para outras pessoas Ele apenas pede que façam caridade.
Por fim, outro questionamento: “com quanto se deve ajudar?”.
No judaísmo, eles doam para os necessitados um mínimo de 10% (dez por cento) até o máximo de 20% (vinte por cento) da renda que Deus lhes confia. Existe explicação acerca do porquê desse mínimo e desse máximo, se quiser conhecer, escrevi um livro sobre o tema: Tsedacá – Justiça dos judeus, boas obras dos cristãos.
Mas, e os cristãos, quanto devem doar para a caridade, isto é, para ajudar os necessitados?
Primeiro é preciso entender que o termo “esmola” é muito ruim e dá a impressão errada de que basta doar algumas moedas que está tudo resolvido. O próprio Senhor Jesus disse que nossa justiça precisaria superar, em muito, a dos fariseus (Mt 5:20), então, no mínimo, deve ser feito mais (quantitativamente) do que eles faziam e com o coração muito melhor (qualitativamente).
A verdade é que, sobre o quanto doar, para os cristãos não existe uma regra impondo mínimo e máximo.
Entretanto, há um princípio: deve ser algo que nos custe, além daquilo que sobra.
Sobre esse “quanto”, escreveu C. S. Lewis, o famoso escritor das Crônicas de Nárnia:
CONTINUA…
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