Comentários acerca da obra “Sobre a Brevidade da Vida”, de Sêneca

A leitura de obras clássicas revela que muitos dos problemas humanos continuam os mesmos com o decorrer dos séculos. Mudam a aparência externa e alguns detalhes, mas perma­nece intacto o âmago das angústias.

Coberto de razão estava o rei Salomão quan­do lamentou: “Gerações vêm e gerações vão, mas a terra permanece para sempre” (Ecl 1:4) e “O que foi tornará a ser, o que foi feito se fará nova­men­te; não há nada novo debaixo do sol” (Ecl 1:9).

Pois bem, o objetivo deste texto é comentar uma obra do filósofo Sêneca (Lucius Annaeus Seneca – 4 a.C. a 65 d.C.), que, dentre outras várias atividades, foi tutor do pequeno Lucius Domitius, que mais tarde se tornou o famoso im­perador Nero. Apesar de escritos há cerca de dois mil anos, seus textos são de uma contemporaneidade espantosa, por tratar de assuntos que ainda hoje se mostram importantes.

Sobre a brevidade da vida tem como ponto central a discussão daquilo que seu título deixa claro: a forma como aproveitamos ou desperdiçamos o tempo de vida que nos foi generosamente concedido.

Sêneca sustenta que a existência é “proveitosa” quando a atenção é voltada para as coisas relevantes, que são aquelas que farão a diferença em favor da sociedade, quando se contribui para a melhoria da vida das pessoas ao redor. Do contrá­rio, envolver-se com coisas fúteis é desperdiçar aquilo que se tem de mais valioso, o “tempo”. Sêneca afirma que esse é o único bem acerca do qual as pessoas deveriam ser avarentas.

Como cada um é atraído pela própria concupiscência (no sentido de “desejo forte”), Sêneca exemplifica algumas “fraquezas” que fazem o homem desperdiçar seus dias em atitudes que de nada serão proveitosas:

– “… a insaciável ganância domina um…”;

– “… outro desperdiça sua energia em trabalhos su­pérfluos…”;

– “… um encharca-se de vinho…”;

– “… outro fica entorpecido pela inércia…”;

– “… um está sempre preocupado com a opinião alheia…”;

– “… outro, por um irreprimido desejo de comer­cializar…”;

– “… também há os que se ocupam invejando o destino alheio e desprezando o seu próprio…”;

– “… a grande maioria, sem nenhum objetivo, lança-se a novos propósitos levianamente, encontrando apenas desgosto”;

– “… desperdiçaram a vida em jogos de xadrez, de bola, ou bronzeando-se ao sol”.

Ele chama a atenção para o devastador efeito dos vícios, que tiram a liberdade e impedem que o homem observe como está sua vida, para onde está caminhando. Não apenas o vício da forma como é mais popularmente conhecido atualmente, isto é, a prisão causada por substâncias tóxicas, mas também o que surge de um tipo de postura que aprisiona a um cotidiano sem objetivo.

Sobre o desperdício do tempo, exorta: “Vamos, faz o cálculo da tua existência”, e continua: “Conta quanto deste tempo foi tirado por um credor, uma amante, pelo poder, por um cliente. Quanto tempo foi tirado pelas brigas conjugais…”, então conclui: “Verás que tens menos anos do que contas”, “Não te envergonhas de destinar para ti somente resquícios da vida e reservar para a meditação apenas a idade que jánão é produtiva?”.

Mas o que Sêneca recomenda? Qual o objetivo de palavras tão duras? A essência de sua exortação é para não se ocupar demais com coisas supérfluas. Mas o que é supérfluo? Ele não deixa claro, mas é perceptível que se insurge contra uma existência sem reflexão, de pessoas que simplesmente “vão vivendo”, sem parar para analisar o que de útil estão fazendo para si próprias e para o bem comum.

Aqui cabe um parêntese: quem me conhece sabe que gosto de buscar conhecimento na literatura judaica. Creio que o povo judeu tem um entendimento muito claro das coisas de Deus, acerca de nossa existência e propósito. Entendem que as pessoas serão recompensadas no Mundo Vindouro de acordo com as ações que praticaram durante a experiência terrena. Então, no que diz respeito à questão do cuidado com o desperdício de tempo (que é a temática central da obra de Sêneca), cito uma pertinente parábola judaica extraída do livro Ensinando com parábolas, p. 23, volume I:

Um momento perdido na feira

Era uma vez um homem abastado cuja única fonte de renda era proveniente das taxas de avaliação que ganhava nas feiras mais importantes e que se realizavam a cada década. Naquela época, todos os nobres do país acorriam à feira para adquirir suas pedras preciosas. Este homem era um perito avaliador de pedras preciosas e tinha a reputação de ser um profissional altamente confiável; por isso, todos procuravam contratar os seus serviços na avaliação de suas joias, pagando-lhe generosamente. Durante o decurso da feira, ele era capaz de amealhar uma pequena fortuna, que lhe permitia viver bem até a feira seguinte.

Durante os anos entre uma feira e outra, o homem somente pensava na próxima feira a ser realizada, sabendo que ele estaria ali para ganhar o seu sustento.

Quando o grande dia finalmente chegava, ele ficava radiante. Com que empenho ele trabalhava du­rante os dias de feira! Em outros tempos, ele estava afeito às comidas, às bebidas e aos divertimentos dos ricos, mas, durante os dias de feira, ele reservava um mínimo de tempo para beber e para comer, de forma a não perder tempo em seu trabalho. Muitas vezes, ele até se esquecia de comer.

CONTINUA…

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Sobre o Autor

H. S. Lima

H. S. Lima é escritor, advogado e palestrante. Tem como propósito de vida compreender os princípios eternos contidos principalmente nos cinco primeiros livros do Antigo Testamento, chamados de Pentateuco ou Torá, identificar a compatibilidade com a mensagem de Jesus Cristo, para então ensinar como observá-los na vida pessoal e profissional.

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