“… de toda palavra fútil que as pessoas disserem,
dela deverão prestar contas no Dia do Juízo.”
(Mt 12:36)
Neste texto quero abordar uma prática que, apesar de ser pecado, é tão comum, que se tornou quase “cultural”, fazendo muitos crerem se tratar apenas de uma falta de educação ou, no máximo, uma falha de caráter a ser corrigida.
Estou falando da “maledicência”, conhecida no meio judaico como lashon hará.
Como dica de leitura acerca do tema, recomendo o livro Uma lição a cada dia, do rabino polonês Yisrael Meir Kagan, conhecido como Chafets Chaim (1839-1933). Esse livro foi organizado para ser lido diariamente, fornecendo valiosas lições que podem auxiliar aqueles que desejam ser mais cuidadosos no falar.
Logo no início, Chafets Chaim traz uma clara definição do que vem a ser a maledicência. Vou transcrever sua lição:
Lashon hará [literalmente, maledicência] é definida como informação depreciativa ou potencialmente danosa para outro indivíduo. Uma afirmação depreciativa sobre alguém é lashon hará, inclusive se ela não causar nenhum dano definitivo a essa pessoa. Focalizar os defeitos de outra pessoa é um erro em si mesmo.
Uma afirmação que poderia prejudicar potencialmente alguém – seja ela financeira, física, psicológica ou outra – é lashon hará, mesmo que a informação não seja negativa. (Deve-se notar que o termo lashon hará refere-se também às informações verdadeiras que são depreciativas ou danosas. Afirmações negativas que são falsas ou inexatas são denominadas hotsaat shen rá, difamação…) (p. 2)
Acerca da importância do cuidado com a fala, o rabino explica que o poder dela está relacionado à essência da pessoa e também que existe uma “grande recompensa, neste mundo e no próximo, por guardar a língua…”.
Muitos pontos do livro merecem destaque:
1) Deve-se estar atento para o risco que existe em espalhar informações ruins, isto é, fatos que, embora verdadeiros, tenham potencial de causar sofrimento, pois pode transformar-se num hábito e, com o passar do tempo, até mesmo tornar-se parte da essência da pessoa. Apesar disso, maus hábitos podem ser corrigidos. Contudo, isso exige muita vontade, esforço e persistência.
Segundo o Talmude, “Devemos sempre despertar esta boa tendência para vencer nossa inclinação para o mal” (Becharot 5a), e nas palavras do Chafets Chaim, “A vida é uma eterna luta contra a tendência para o mal”.
2) Com base no Sêfer Yereim, Chafets Chaim ensina que praticar maledicência é semelhante a negar a Deus. Por quê? Pela razão de que quem o faz costuma olhar para os lados para ter certeza de que o alvo não está por perto, como se Deus não estivesse ouvindo. Então, em verdade, age como se Ele não existisse.
3) Ainda que pareça inofensiva, a maledicência é um dos piores pecados que existem porque é bastante fácil acumulá-lo. Num único dia ou evento, uma pessoa pode cometê-lo dezenas de vezes e dificilmente conseguirá se lembrar de todos para pedir perdão a Deus.
4) A dificuldade em alcançar uma fala completamente pura não deve ser motivo para não se esforçar em consegui-la. Ainda que o resultado total seja difícil, não significa que não seja possível conquistar vitórias parciais na luta contra a maledicência. O comentarista bíblico Rashi conta que Moisés certa vez falou: “Eu cumprirei tudo o que estiver ao meu alcance ser cumprido” (como comentário a Deuteronômio 4:41) e o sábio Salomão aconselha: “Tudo o que estiver em seu poder, faça-o”.
5) Sempre que uma informação sobre alguém é depreciativa (ainda que verdadeira), por exemplo, uma falha de caráter, ela já se torna automaticamente proibida de ser comunicada, e não importa se é algo atual ou antigo. A vedação persiste mesmo se o aspecto negativo for utilizado apenas como exemplo para apontar uma falha na própria pessoa que está falando.
6) Uma boa forma de saber se um fato, mesmo verdadeiro, poderia causar sofrimento psicológico à pessoa, é imaginá-lo sendo contado na frente dela. Se houver constrangimento, então não deve ser contado até mesmo em sua ausência.
Também não convém deixar subentendido que se está em posse de informações negativas sobre alguma pessoa, mas que prefere deixar de comentar, porque, entre outros motivos, o ouvinte pode supor situações ainda mais graves. Tampouco são permitidos gestos e outros sinais não verbais ou escritos, pois também constituem formas de comunicação.
CONTINUA…
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